(C) Global Voices This story was originally published by Global Voices and is unaltered. . . . . . . . . . . Pesquisa procura mulheres jornalistas para treinamento no Burkina Faso, Senegal e Togo [1] ['Jeslyn Lemke'] Date: 2024-06-14 A jornalista Sira Sow senta-se atrás de um microfone verde em uma sala de gravação em um vilarejo rural quente no leste do Senegal. Ela fala no idioma local uolofe na rádio comunitária La Laghem FM, suas palavras ecoam em taxis, lares, lojas e celulares de centenas de locais na região de N'Dofane. Ela está falando sobre acabar com a violência de gênero, e o imam local, que ela entrevistou para a sua reportagem, concorda com ela. Violência de gênero não é apoiada pelo Corão, o texto sagrado do Islã, ele diz. Sua transmissão de rádio atinge muitos ouvidos naquele dia, já que muitos habitantes locais falam apenas uolofe e talvez só consigam se informar através de mídia oral como o rádio. “Às vezes, no Senegal, encontramos vítimas de violência, particularmente jovens mulheres, mas em nossa cultura, mesmo se você é uma vítima, às vezes [você] hesita em denunciar a violência”, diz Sow, em uma entrevista posterior para a Global Voices. Sow é parte de um grupo piloto de mulheres jornalistas que participa do projeto Reporting Fellowship for Women Journalists in Francophone Africa, que agora está trabalhando para começar uma rede de mulheres jornalistas no leste africano com uma nova pesquisa e uma nova comunidade on-line. A instituição por trás do projeto, o The Africa Women Journalism Project (AWJP), está conduzindo uma pesquisa com o objetivo de criar uma nova rede de jornalistas nos países francófonos Burkina Faso, Senegal e Togo, para criar uma rede pan-africana de mulheres jornalistas cobrindo assuntos das mulheres. A pesquisa em francês e inglês no X (antigo Twitter) está reunindo dados sobre a cobertura de assuntos de gênero nas redações de jornais desses três países. Com esses dados, pode-se montar um currículo para ensinar técnicas de jornalismo às integrantes da rede. Em 27 de maio, a AWJP lançou um novo espaço on-line, a #AWJPWACommunity, para unir mulheres jornalistas em todos os países francófonos do leste africano. Esta comunidade nascente pode unir mulheres jornalistas por meio de novos contatos entre colegas e treinamento regional. Como diretora do AWJP, Catherine Gicheru, explica que a violência de gênero e problemas de saúde da mãe e do feto são assuntos significantes que afetam mulheres em toda nação africana. As mulheres jornalistas que cobrem estes tópicos do Benin ao Togo trazem para a redação conhecimento altamente específico de suas respectivas culturas. Combinar o conhecimento local de cada jornalista sobre assuntos das mulheres – como a violência de gênero no Senegal comparado com a Nigéria – pode ajudar a enriquecer e fortalecer a reportagem colaborativa. “Como eu posso unir a jornalista senegalesa com a jornalista ganense, e a jornalista tanzaniana que podem estar trabalhando com o mesmo assunto? Os assuntos são os mesmos; as histórias podem ficar melhores se compartilhamos como estamos lidando com esses problemas; temos os mesmos problemas”, Gicheru disse à Global Voices em uma entrevista em abril. Cobertura feita por antigas membros do AWJP teve bastante sucesso com os públicos africanos, com algumas ganhando prêmios importantes. A jornalista nigeriana Fadare Titilope, que já fez parte da AJWP, publicou uma impactante série de artigos sobre mutilação genital feminina (MGF) no jornal nigeriano “Premium Times” que rendeu a ela o prêmio nacional nigeriano ReportHer em 2023. Ela teve vários meses de orientação e edição de sua mentora no AWJP, a jornalista nigeriana Vanessa Offiong. Offiong disse que quando ela trabalhou com membros da AWJP na Nigéria, ela ajudou editoras do Quênia a entenderem contextos culturais nigerianos. Por exemplo, a prática nigeriana de uma mãe ou sogra visitar uma filha que acaba de parir é chamada de omugwo, mas é bastante diferente na parte norte e na parte sul do país. “Tenho que dar esse tipo de insight local… Eu dizia a elas [editoras do AWJP] que mesmo esta prática de omugwo difere de cultura para cultura na Nigéria. Esse era um ponto sobre o qual o AWJP estava disposto a me ouvir falar”, Offiong disse em uma entrevista para a Global Voices, de Lagos. O AWJP é uma iniciativa midiática que foi fundada por Catherine Gicheru em 2020 durante a pandemia da COVID-19, com financiamento do International Center for Journalists (ICFJ). Na época, Gicheru era uma Kight Fellow do ICFJ baseada no Quênia; o objetivo do AWJP era apoiar um grupo de mulheres jornalistas em sua cobertura do impacto da COVID-19 nas mulheres e crianças em comunidades vulneráveis em diferentes nações africanas. Mulheres jornalistas de Uganda, Gana, Quênia, Nigéria e Tanzânia trabalharam juntas e receberam treinamento do AWJP. Para voltar à transmissão de Sow no Senegal rural no ano passado: sua reportagem saiu na La Laghem FM, e falava sobre quebrar o silêncio em torno da violência doméstica e assédio na cultura tradicional senegalesa. O termo “não-denúncia” ou “falha em relatar” em uolofe é ndeup neupal (pronouncia-se “n-puh n-puh”). A reportagem de Sow foi ao ar em francês e em uolofe para atingir uma audiência maior, já que o termo ndeup neupal tem grande significado cultural para os habitantes locais que talvez não falem francês. Ela entrevistou uma jovem mulher que tinha sido assediada pelo seu tio. Sow incluiu entrevistas com um “homme culturel”, que é um localmente respeitado patriarca da comunidade ou vila, além de líder muçulmano local (imam) e terapeuta. O imam foi citado como fortemente contra a violência contra a mulher, dizendo que o Corão não apoia a violência doméstica ou assédio. Quebrar estes tabus culturais, disse Sow, fez sua reportagem ganhar audiência nas organizações comunitárias que apoiam mulheres em sua área. “Os ‘hommes culturels’ realmente gostaram. Porque eles viram que a produção tinha sido feita no contexto de nossa cultura senegalesa… nós honramos a cultura em nossa reportagem e os ‘hommes culturels’ realmente gostaram disso. Mostramos que violência não é apreciada em nossa cultura senegalesa, nem na nossa religião. Tivemos muitos feedbacks positivos sobre essa publicação“, Sow disse. Sow ficou feliz com o impacto de sua reportagem de rádio. “As mulheres que se voluntariam na nossa organização local de saúde comunitária [‘Badianou Guokh’] que ajuda mulheres, especialmente a saúde de mulheres e crianças… elas entraram em contato e nos deram um feedback bastante positivo”, disse Sow. Depois de ouvir sua reportagem na rádio, Sow disse que voluntárias da Badianou Guokh citaram a sua produção nos seus trabalhos nas ruas com mulheres grávidas e mães amamentando. Financiamento para a pesquisa atual para jornalistas francófonas vem da New Venture, um fundo para o desenvolvimento da mídia. Com os resultados da pesquisa sobre as barreiras enfrentadas por mulheres jornalistas nestes três países francófonos, Gicheru espera conseguir mais financiamento para lançar a rede de jornalismo. Uma pergunta da pesquisa diz: Certaines salles de rédaction ont une politique éditoriale (lignes directrices qui contrôlent et modifient la couverture). La politique éditoriale de votre salle de réduction énumère-t-elle des lignes directrices pour la représentation des femmes dans les textes ou photos? Algumas redações tem uma linha editorial política (uma política de guia que controla e edita a cobertura). A política editorial da sua redação define alguma regra para a representação de mulheres em texto ou fotos? O tratamento cultural das mulheres, como funcionárias de uma redação, e também sua representação nas coberturas de mídia pela África, está no centro dos sonhos de Gicheru para suas colegas do AWJP. “Existem áreas em comum entre Senegal, Togo e Burkina Faso ou existem desafios comuns? A pesquisa pode nos dizer que há outras questões”, disse Gicheru. “Para Togo e Burkina Faso, qualquer intervenção que planejarmos será com base na pesquisa que estamos fazendo agora”, Gicheru acrescentou. [END] --- [1] Url: https://pt.globalvoices.org/2024/06/14/pesquisa-procura-mulheres-jornalistas-para-treinamento-no-burkina-faso-senegal-e-togo/ Published and (C) by Global Voices Content appears here under this condition or license: https://globalvoices.org/about/global-voices-attribution-policy/. via Magical.Fish Gopher News Feeds: gopher://magical.fish/1/feeds/news/globalvoices/