(C) OpenDemocracy This story was originally published by OpenDemocracy and is unaltered. . . . . . . . . . . Primeiro voo transatlântico net zero acusado de greenwashing [1] [] Date: 2024-04 A Virgin Atlantic e o governo do Reino Unido foram acusados de enganar o público em relação ao que eles afirmam ser "o primeiro voo transatlântico do mundo com emissão zero de carbono" antes da cúpula da COP28 desta semana. O Departamento de Transportes afirmou que o voo, programado para terça-feira, "inaugura uma nova era de voos sem culpa", uma vez será operado inteiramente com o chamado "combustível sustentável de aviação" (SAF, na sigla em inglês). No entanto, no início deste ano, o openDemocracy revelou preocupações de que a produção de SAF no Reino Unido pode estar ligada ao desmatamento. "Há uma incrível duplicidade de padrões em jogo aqui", disse Matt Finch, gerente de políticas do Reino Unido do grupo de campanhas ecológicas Transport & Environment. Get our free Daily Email Get one whole story, direct to your inbox every weekday. Sign up now O mercado de SAF no Reino Unido depende em grande parte do óleo de cozinha usado da Ásia, onde suspeita-se que vendedores fazem passar óleo de palma por óleo de cozinha usado a fim de atrair créditos lucrativos. Esse é um problema específico para o meio ambiente, uma vez que a produção de óleo de palma gera desmatamento. No ano passado, a Virgin comprou mais de 600 mil litros de óleo de cozinha "usado" da China e da Indonésia para transformá-lo em SAF e misturá-lo ao combustível comum para os voos de rotina. Embora afirme que a matéria-prima para o voo da desta semana, que sairá de Londres com destino a Nova York, procede exclusivamente da Europa e dos EUA, a companhia aérea admitiu que ainda estava comprando "matérias-primas" da Ásia para produção adicional de SAF este ano. "Algumas companhias aéreas britânicas estão, neste momento, praticando greenwashing ao usar óleo de cozinha usado feito de matérias-primas asiáticas", disse Finch. “Se as companhias aéreas estivessem genuinamente tentando ser sustentáveis, parariam agora mesmo devido ao enorme risco de o óleo de palma nocivo entrar na cadeia de abastecimento do SAF”. O voo será realizado dois dias antes do início da COP28, a cúpula internacional anual sobre o clima, em Dubai, na quinta-feira. Meta net zero O setor de aviação afirma que o SAF – que é quase todo produzido a partir de culturas de biocombustíveis ou resíduos – poderia proporcionar cerca de 65% da redução de emissões necessária para que as companhias aéreas cheguem ao net zero em 2050. De acordo com a norma de obrigação de combustíveis renováveis de transporte (RTFO), o governo permite que o óleo de cozinha usado seja usado para produzir o combustível. Atualmente, ele é responsável pela grande maioria dos SAF declarados no Reino Unido, a maioria dos quais vem da Ásia. Somente neste ano, as companhias aéreas britânicas compraram mais de 26 milhões de litros de óleo de cozinha asiático usado, incluindo 18 milhões de litros da Malásia, cinco milhões da China e dois milhões da Indonésia. Apenas cerca de 15% do óleo de cozinha usado comprado pelas companhias aéreas em 2023 veio de fontes europeias, principalmente do Reino Unido e da Holanda. Investigações sugerem que há um alto risco de fraude no fornecimento de biocombustível da Ásia, com preocupação especial em relação ao óleo de palma virgem que está sendo passado como óleo de cozinha usado. Rotular óleo de palma virgem como usado o torna mais valioso, em parte porque os produtos residuais ganham créditos duplos de acordo com as regras do governo do Reino Unido para combustíveis sustentáveis. Até mesmo o óleo de cozinha usado genuíno pode causar desmatamento de forma indireta, uma vez os países optam por exportar óleo usado que seria usado internamente. Assim, passam a usar óleo de palma virgem para atender à sua própria demanda local, de acordo com a Transport & Environment. A organização afirma que o óleo de cozinha usado da Ásia seria mais eficaz na redução das emissões se fosse usado para substituir o diesel nos países onde foi produzido, em vez de ser enviado para o outro lado do mundo para ser refinado – usando energia adicional – em combustível de aviação. A Royal Society, que representa os principais cientistas do Reino Unido, também alertou que seria necessária uma área com pelo menos metade do tamanho do Reino Unido para cultivar culturas de biocombustível suficientes para atender à demanda de aviação existente somente no Reino Unido. É provável que o aumento dos níveis de reciclagem também signifique que menos material residual esteja disponível para a fabricação do combustível. Mandato de combustível verde Atualmente, os motores a jato comerciais podem queimar no máximo 50% de SAF, que é misturado ao tradicional querosene de aviação. Mas espera-se que o voo de demonstração dessa semana mostre que é seguro usar 100% de SAF. O voo está sendo financiado com um subsídio do governo de até £1 milhão. Isso se dá apenas algumas semanas antes de o governo anunciar detalhes sobre o chamado "mandato SAF", que exigirá que pelo menos 10% do combustível de aviação no Reino Unido seja proveniente de "fontes sustentáveis" até 2030. O Departamento de Transportes está planejando limitar a quantidade de óleo de cozinha usado e gordura animal que as companhias aéreas podem usar para cumprir essa obrigação, uma vez que a demanda poderia desviar esses produtos dos esforços para descarbonizar o transporte rodoviário. O limite, no entanto, pode chegar a 250 milhões de litros por ano de óleos e gorduras residuais. Finch, da Transport and Environment, disse: "O mandato SAF será a maior regulamentação ambiental já aplicada à aviação do Reino Unido, e o governo tem uma escolha a fazer: deve continuar permitindo que o SAF seja fabricado a partir de matérias-primas que têm benefícios ambientais duvidosos, ou deveria garantir que os critérios de sustentabilidade que estabelece realmente alcancem reduções de carbono? O óleo de cozinha usado deveria ser banido dos aviões do Reino Unido." 'Minando' as metas climáticas A Virgin e outras companhias aéreas do Reino Unido afirmam que seu SAF foi certificado pela International Sustainability and Carbon Certification (ISCC), um esquema governado por um conselho que inclui um executivo da Air BP – um dos fornecedores de SAF da Virgin.. Apesar disso, a ISCC tomou algumas medidas com relação à venda indevida de SAF. Este ano, lançou uma investigação sobre "comportamento potencialmente fraudulento" envolvendo biodiesel que havia sido declarado como resíduo da Indonésia ou da Malásia e depois exportado da China para a Europa. Além disso, suspendeu a certificação de sustentabilidade de três exportadores chineses de biocombustível e, no mês passado, prometeu combater a fraude implementando "um banco de dados de rastreabilidade até o final do ano". Um porta-voz da Virgin Atlantic disse ao openDemocracy: "Em todas as compras de SAF, exigimos que os fornecedores cumpram os padrões de sustentabilidade aplicáveis. Com relação ao SAF HEFA (Ésteres hidrogenados e ácidos graxos), pedimos aos fornecedores que garantam que as matérias-primas não contenham óleo de palma ou seus derivados. "O SAF é um setor emergente e obtemos matérias-primas de regiões de todo o mundo e pedimos que os fornecedores realizem uma diligência robusta para garantir que não haja óleo de palma ou derivados." No entanto, a Aviation Environment Federation (Federação Ambiental de Aviação) do Reino Unido afirma que o entusiasmo do setor de aviação com o SAF está obscurecendo a necessidade urgente de soluções genuinamente sustentáveis para as emissões da aviação, incluindo o desenvolvimento de aeronaves com emissão zero e uma redução geral nos voos. Mesmo que cada gota de óleo de cozinha usado disponível globalmente fosse usada para combustível de aviação, haveria apenas o suficiente para abastecer cerca de 1 em cada 40 voos, de acordo com estimativas da consultoria de combustível sustentável Cerulogy. O setor de aviação afirma que está desenvolvendo fontes alternativas de combustível de aviação sustentável, incluindo "milho industrial não comestível", "resíduos florestais" e lixo doméstico. Mas um estudo realizado em agosto pela Manchester Metropolitan University contestou as alegações do setor de que o combustível de aviação sustentável pode reduzir drasticamente as emissões. Segundo o estudo: "A expansão do SAF não apenas para manter, mas também para expandir a aviação global é problemático, pois compete com a terra necessária para a remoção natural de carbono, com a produção de energia limpa que poderia descarbonizar outros setores de forma mais eficaz e com o CO2 capturado que deve ser armazenado permanentemente. Dessa forma, a produção de SAF prejudica as metas globais de limitar o aquecimento a 1,5°C." Cait Hewitt, diretor de políticas da Aviation Environment Federation, disse que um voo usando 100% de SAF "não altera o fato de que apenas 2,6% do combustível de aviação do Reino Unido não é querosene. E, globalmente, o número é mais parecido com 0,1%". Ela disse que o setor e o Departamento de Transportes estavam errados ao sugerir que o SAF fabricado a partir em resíduos poderia ser ampliado de forma sustentável. "É uma boa ideia produzir combustível a partir do lixo, que é o que o governo do Reino Unido e outros estão promovendo, mas produzir mais lixo para transformar em combustível de avião obviamente não é uma opção sustentável a longo prazo", argumenta. Ela também disse que é enganoso afirmar, como fez o Departamento de Transporters, que o SAF reduz as emissões de gases de efeito estufa em 70%. "Até mesmo o uso de 100% de SAF, como será o caso no próximo voo da Virgin Atlantic, reduz as emissões do tubo de escape em 0% em comparação com o uso de querosene. Qualquer economia de CO2 será uma economia líquida, assim como acontece com as compensações de carbono." Ela disse que o voo não alcançaria nenhuma economia líquida de CO2 a menos que a Virgin e o Departamento de Transportes pudessem demonstrar que mais carbono foi capturado do que teria sido capturado de qualquer maneira. Um porta-voz do Departamento de Transportes disse: "Nosso programa de combustível de aviação sustentável é um dos mais abrangentes do mundo. "Exigimos que o combustível usado [para o voo 100% SAF] atenda aos critérios de sustentabilidade especificados. No entanto, cabe à operadora e a seus fornecedores de combustível determinar a natureza exata do combustível dentro desses parâmetros. Os fornecedores de combustível estão sujeitos a verificações independentes para confirmar a autenticidade de seus materiais." [END] --- [1] Url: https://www.opendemocracy.net/pt/virgin-atlantic-primeiro-voo-transatlantico-net-zero-greenwashing-cop28/ Published and (C) by OpenDemocracy Content appears here under this condition or license: Creative Commons CC BY-ND 4.0. via Magical.Fish Gopher News Feeds: gopher://magical.fish/1/feeds/news/opendemocracy/