(C) The Conversation This story was originally published by The Conversation and is unaltered. . . . . . . . . . . Pesquisa usa nanotecnologia para melhorar conservantes naturais de alimentos [1] ['Carlos Adam Conte Júnior'] Date: 2024-07-01 14:29:48+00:00 Os óleos essenciais são conhecidos por suas propriedades antioxidantes e antimicrobianas, sendo amplamente estudados pela comunidade científica. No entanto, o uso deles como conservantes têm algumas limitações, como rápida evaporação, dificuldade de se dissolver em água e aromas fortes que podem alterar muito o sabor dos alimentos. A nanotecnologia oferece novas soluções para essa questão. Ela permite encapsular os óleos essenciais em partículas tão pequenas que alcançam a escala nanométrica, conferindo-lhes novas características aprimoradas. Ao reduzir os óleos essenciais a tamanhos nanométricos, não só preserva suas propriedades benéficas, mas também potencializa suas capacidades. Isso é especialmente importante para a indústria alimentícia, onde a segurança e a qualidade dos produtos são fundamentais. O nosso grupo de pesquisa, no Laboratório de Análises Avançadas em Bioquímica e Biologia Molecular (LAABBM) e no Núcleo de Análise de Alimentos (NAL) do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IQ-UFRJ), trabalha nessa área. Criamos revestimentos solúveis em água ao redor dos óleos, permitindo um maior controle sobre suas propriedades e aumentando sua eficácia biológica. Efeito contra bactérias Em um dos nossos estudos, na revista Antibiotics, demonstramos os benefícios dessas nanoemulsões com uma mistura de óleos essenciais de orégano, tomilho e capim-limão. Essa combinação mostrou ser eficaz contra bactérias como Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Salmonella Enteritidis, que estão entre os principais contaminantes de alimentos. Descobrimos que a eficácia das misturas depende da combinação de concentrações de cada óleo. A mistura mais eficaz para eliminar essas bactérias foi em 75% de orégano, 15% de tomilho e 10% de capim-limão. Entretanto, para apenas impedir o crescimento delas, a composição ideal foi em 50% de orégano, 40% de tomilho e 10% de capim-limão. Depois, em trabalho publicado em maio na revista Foods, testamos essa nanoemulsão de óleos na água diretamente em filés de truta arco-íris armazenados a 4°C por 9 dias. A truta é um peixe rico em ômega-3, mas tem o seu consumo limitado pois é rapidamente perecível. Observamos que a mistura formulada também foi eficaz em impedir o crescimento das mesmas bactérias contaminantes, destacando seu potencial como agente antimicrobiano em alimentos. Essa mistura de óleos essenciais é uma alternativa promissora aos conservantes químicos, podendo ser usada em conjunto com outras tecnologias, como embalagens de alimentos que consigam liberar esses óleos de forma gradual. Na indústria, isso pode contribuir significativamente para a segurança alimentar e redução de riscos à saúde pública, além de se tratar de uma tecnologia natural e sustentável. Efeito antioxidante Nosso grupo também analisou, em estudo na Food and Bioprocess Technology, a mistura de capim-limão (60%) com tomilho (40%), que tem propriedades antimicrobianas e antioxidantes. Elas se mantiveram estáveis mesmo após expormos os filés com a nanoemulsão à luz ultravioleta, um poderoso agente oxidante. Observamos que os compostos ativos presentes na mistura mantiveram suas atividades antioxidantes, com moléculas funcionais e estáveis. Depois, em outro artigo publicado esse ano na revista Scientific Reports, do grupo Nature, testamos outra mistura otimizada de óleos essenciais para medir qual seria a máxima atividade antioxidante. Também avaliamos os resultados em filés de truta refrigerados por nove dias. A mistura de capim-limão (66%) com orégano (34%) reduziu a oxidação e preservou a textura dos filés. Ela foi comparável ao antioxidante sintético BHT (que é amplamente utilizado pela indústria), atenuando a descoloração, a oxidação de gorduras e proteína, além de preservar a textura dos filés, prolongando a vida útil em 13 horas. Essas misturas naturais mostraram serem alternativas promissoras para melhorar a qualidade dos filés de truta refrigerados. A otimização multi-resposta (contra bactérias e oxidação) é muito benéfica para sua aplicação na indústria alimentícia. Próximos passos Nosso grupo estuda há mais de 15 anos sobre diferentes parâmetros referentes à validade comercial de produtos cárneos e iniciamos em 2016 na área de nanotecnologia aplicada a alimentos. A partir de 2019, através de um Edital das Redes de Nanotecnologia da FAPERJ, conseguimos impulsionar ainda mais esta linha de pesquisa. Assim, pudemos estudar como diferentes tipos de nanopartículas interagem com diversos compostos bioativos e materiais, e avaliar como esses sistemas podem ser usados em diferentes alimentos. Essas técnicas para produção de nanoemulsões são passíveis de reprodução em larga escala e inclusive já começaram recentemente a ser utilizadas na indústria de alimentos para outros fins. No entanto, ainda precisamos fazer mais testes para garantir a viabilidade comercial das misturas que desenvolvemos. No futuro, ainda pretendemos aprofundar os estudos sobre as interações químicas entre diferentes nanoemulsões de óleos essenciais, para ampliar ainda mais suas atividades biológicas. Também estamos buscando por novas tecnologias de encapsulamento ainda mais personalizadas, de acordo com o núcleo oleoso e o alimento no qual serão aplicados. Por fim, os nossos resultados são muito promissores. Eles mostram que os conservantes naturais, aprimorados por nanotecnologia, podem reduzir a dependência da sociedade moderna por conservantes químicos, promovendo acesso a alimentos conservados de forma mais natural e segura. [END] --- [1] Url: https://theconversation.com/pesquisa-usa-nanotecnologia-para-melhorar-conservantes-naturais-de-alimentos-232962 Published and (C) by The Conversation Content appears here under this condition or license: Creative Commons CC BY-ND 4.0. via Magical.Fish Gopher News Feeds: gopher://magical.fish/1/feeds/news/theconversation/