Guarda sol Velho robe ao sabor do vento Ouxa-lá cumprisses a promessa do teu nome. Guarda-me uma brisa de julho para me aquecer os ossos numa noite de fevereiro. Ah, guarda sol, Faz me sonhar com praias já esquecidas cujo nome jamais deixará minha memória. Cobre-me com a rubra areia do Malhão. Envolve-me nas colinas da Ursa. Embala-me nas cavernas do Belixe. Abraça-me nas ondas metálicas da Praia Grande. Beija-me com os ventos do Guincho e Martinhal. Ah, guarda sol, Guarda as doces memórias das tardes de verão, para que ao ver-te assim, velho, desbotado, queimado pelo tempo, sol e sal, orgulhosamente enferrujado, teimosamente emprumado contra os caprichos da Nortada, não me deixe eu abalar pela escuridão de janeiro. Guarda sol, No teu ser objecto inanimado, Não tens sangue, Não tens pele, Não tens alma. Falta-te dor e alegria, Falta-te amor, nem que seja por um dia No entanto aqui estás, roto, velho, acabado. Chegou o fim da tua viagem, prometida a eternidade, afinal estavas só de passagem... Levou-te o vento lá para longe. Estocolmo, Agosto de 2021